Resumo: “Iluminismo”
Para um
melhor entendimento do que significou o Iluminismo, François Furet nos mostra a
importância dos filósofos precursores que desencadearam uma nova forma de
pensar, que “sustentaram o sonho de formar novos homens, livres das amarras do
preconceito, aperfeiçoados na medida do tempo em que viviam”. Segundo o autor,
por meio das ideias desses filósofos (iluminados), chegou-se ao fim dos longos
séculos de trevas, de tirania e de preconceitos.
Para Furet,
a época do Iluminismo foi marcada pelo florescimento da filosofia política,
destacando que “não há liberalismo político moderno sem a obra de Montesquieu e
Smith, nem tampouco, há pensamento político moderno sem o Contrato social”. Esse século, segundo Furet, reivindicava para si
uma tradição, a do florescimento das letras e da reivindicação da liberdade, e,
além das vicissitudes da sua própria história, podia sempre recorrer as suas
origens como sua justificação em última instância. Esse retorno a tais origens
possibilitaria uma permanente fonte de renovação de sua grandeza.
Segundo
Furet, o termo “Luzes” é um termo usado relativamente há pouco tempo e que, prestando
homenagem às Luzes, “a Revolução recorria aos Voltaire e aos Rousseau, como
testemunhas para que se reconhecessem na obra que ela havia cumprido, e nela
reencontrassem suas ideias e sua mensagem”. A imagem de Voltaire e de Rousseau
está relacionada a dois momentos fortes da difusão da imagem dupla da Revolução
e do Iluminismo. Nesse contexto, Furet salienta que, Robespierre e Maistre
podiam reconhecer que o Iluminismo dera origem à Revolução; um para exaltar o
pai e o rebento, o outro para condenar os dois. Para o autor, o período
revolucionário legou essas imagens aos seus historiadores e toda uma
historiografia a retomou e amplificou.
Os
filósofos, com seus pensamentos evolutivos, possibilitaram uma nova visão da
realidade, despertando nas mentes mais humildes o desejo de liberdade e
evolução, começando, portanto, uma nova jornada em direção às revoluções. Nesse
contexto, Furet cita uma célebre frase de Rousseau “Nós nos aproximamos do
estado de crise e do século das revoluções. Considero impossível que as grandes
monarquias ainda durem muito tempo; todas brilharam, e um Estado que brilha
começa a declinar”.
Foret
salienta que o padre Barruel – um jesuíta – desenvolveu a tese de
responsabilidade dos “filósofos”, e que o mesmo culpa os filósofos de um complô
filosófico e maçônico na origem da Revolução, baseado em citações de Voltaire,
Rousseau, Diderot da Encyclopedie,
demonstrando que desde a metade do século XVIII existia e agia uma conspiração
que visava a subverter a ordem social. Para o padre Burruel, os “filósofos”
eram os chefes de tal conspiração e as lojas maçônicas – especificamente os
“iluminados” da Baviera – formavam uma verdadeira rede de subversão, os quais
criticavam a religião e o clero, a família e a moral, a nobreza e o trono. E
que, foi por meio do trabalho destes, que se preparou ataque que, de fato,
originou a revolução em 1789.
Por
outro lado, houve quem defendesse os filósofos a exemplo de Mounier – o chefe
de fila dos “Monarquianos” –, que entrou em polêmica com o padre Burruel,
demonstrando que “a ideia de um complô atraía os espíritos “preguiçosos e
superficiais”; que os “filósofos” nunca haviam clamado pela revolta; que o
objetivo deles não era subverter a ordem social, mas, pelo contrário,
protegê-la contra os cataclismos, modernizando-a
e reformando-a”.
Concordando
com os pensamentos de Mounier – o que de fato é convincente –, Foret salienta
que as profecias dos “filósofos” não passam geralmente de figuras retóricas,
que são apenas outros tantos apelos para impedir tumultos, que tais apelos não
consistem a um convite à Revolução, mas numa incitação a reformas. Nesse
contexto, os “filósofos”, conforme afirma Foret, produziam a representação de
um poder que, mediante seus atos, seria capaz de contribuir para todos os
problemas sociais e mesmo morais com respostas tão firmes quanto racionais, o
que motivava as solicitudes que cercavam a política e mesmo o Estado – que
seria o instrumento privilegiado da expansão do espírito esclarecido. Portanto,
conforme Foret, o Iluminismo deixou uma herança que consistiu sobretudo num
certo estilo de pensamento assim como num conjunto específico de representações
e de expectativas que conjugavam política e moral.
Referência:
FURET, François, OZOUF,
Mona. Pref. José Guilherme Merquior. Trad. Enrique de Araújo Mesquita. Dicionário
crítico da revolução Francesa. 1. ed. 2. Impr. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1989.
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