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domingo, 7 de setembro de 2014

RESUMO: Iluminismo



Resumo: “Iluminismo”

Para um melhor entendimento do que significou o Iluminismo, François Furet nos mostra a importância dos filósofos precursores que desencadearam uma nova forma de pensar, que “sustentaram o sonho de formar novos homens, livres das amarras do preconceito, aperfeiçoados na medida do tempo em que viviam”. Segundo o autor, por meio das ideias desses filósofos (iluminados), chegou-se ao fim dos longos séculos de trevas, de tirania e de preconceitos.
Para Furet, a época do Iluminismo foi marcada pelo florescimento da filosofia política, destacando que “não há liberalismo político moderno sem a obra de Montesquieu e Smith, nem tampouco, há pensamento político moderno sem o Contrato social”. Esse século, segundo Furet, reivindicava para si uma tradição, a do florescimento das letras e da reivindicação da liberdade, e, além das vicissitudes da sua própria história, podia sempre recorrer as suas origens como sua justificação em última instância. Esse retorno a tais origens possibilitaria uma permanente fonte de renovação de sua grandeza.
Segundo Furet, o termo “Luzes” é um termo usado relativamente há pouco tempo e que, prestando homenagem às Luzes, “a Revolução recorria aos Voltaire e aos Rousseau, como testemunhas para que se reconhecessem na obra que ela havia cumprido, e nela reencontrassem suas ideias e sua mensagem”. A imagem de Voltaire e de Rousseau está relacionada a dois momentos fortes da difusão da imagem dupla da Revolução e do Iluminismo. Nesse contexto, Furet salienta que, Robespierre e Maistre podiam reconhecer que o Iluminismo dera origem à Revolução; um para exaltar o pai e o rebento, o outro para condenar os dois. Para o autor, o período revolucionário legou essas imagens aos seus historiadores e toda uma historiografia a retomou e amplificou.
Os filósofos, com seus pensamentos evolutivos, possibilitaram uma nova visão da realidade, despertando nas mentes mais humildes o desejo de liberdade e evolução, começando, portanto, uma nova jornada em direção às revoluções. Nesse contexto, Furet cita uma célebre frase de Rousseau “Nós nos aproximamos do estado de crise e do século das revoluções. Considero impossível que as grandes monarquias ainda durem muito tempo; todas brilharam, e um Estado que brilha começa a declinar”.
Foret salienta que o padre Barruel – um jesuíta – desenvolveu a tese de responsabilidade dos “filósofos”, e que o mesmo culpa os filósofos de um complô filosófico e maçônico na origem da Revolução, baseado em citações de Voltaire, Rousseau, Diderot da Encyclopedie, demonstrando que desde a metade do século XVIII existia e agia uma conspiração que visava a subverter a ordem social. Para o padre Burruel, os “filósofos” eram os chefes de tal conspiração e as lojas maçônicas – especificamente os “iluminados” da Baviera – formavam uma verdadeira rede de subversão, os quais criticavam a religião e o clero, a família e a moral, a nobreza e o trono. E que, foi por meio do trabalho destes, que se preparou ataque que, de fato, originou a revolução em 1789.
Por outro lado, houve quem defendesse os filósofos a exemplo de Mounier – o chefe de fila dos “Monarquianos” –, que entrou em polêmica com o padre Burruel, demonstrando que “a ideia de um complô atraía os espíritos “preguiçosos e superficiais”; que os “filósofos” nunca haviam clamado pela revolta; que o objetivo deles não era subverter a ordem social, mas, pelo contrário, protegê-la contra os cataclismos, modernizando-a e reformando-a”.
Concordando com os pensamentos de Mounier – o que de fato é convincente –, Foret salienta que as profecias dos “filósofos” não passam geralmente de figuras retóricas, que são apenas outros tantos apelos para impedir tumultos, que tais apelos não consistem a um convite à Revolução, mas numa incitação a reformas. Nesse contexto, os “filósofos”, conforme afirma Foret, produziam a representação de um poder que, mediante seus atos, seria capaz de contribuir para todos os problemas sociais e mesmo morais com respostas tão firmes quanto racionais, o que motivava as solicitudes que cercavam a política e mesmo o Estado – que seria o instrumento privilegiado da expansão do espírito esclarecido. Portanto, conforme Foret, o Iluminismo deixou uma herança que consistiu sobretudo num certo estilo de pensamento assim como num conjunto específico de representações e de expectativas que conjugavam política e moral.  

Referência:

FURET, François, OZOUF, Mona. Pref. José Guilherme Merquior. Trad. Enrique de Araújo Mesquita. Dicionário crítico da revolução Francesa. 1. ed. 2. Impr. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

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